Sunday, September 30, 2007

A ciência e o galo de Barcelos


É conhecida a aversão portuguesa á ciência, á matemática...enfim no limite a tudo o que obrigue a fazer raciocínios mais elaborados, do que contar os dias que faltam até ao próximo jogo do Benfica, quanto tempo falta até ao 13 de Maio ou quantos meses se têm que privar de uma vida decente até poderem comprar um carro igual ao do vizinho.
Uma das consequências deste imenso atraso civilizacional, é o facto de em Portugal os cientistas serem olhados como pessoas que estudaram muito, mas que desperdiçaram o seu conhecimento e inteligência na ciência em vez de optarem por um ''emprego'' normal.
Aliás a maioria dos portugueses até chega ao cúmulo de achar que ser cientista não é uma profissão, que não servem para nada e que apenas usam o dinheiro dos contribuintes para seu deleite intelectual. Assim pensa a maioria do povo e quase a totalidade dos governantes, os quais em geral não percebem nada de ciência, ou de tecnologia ou de outra coisa qualquer, que vá para além do Direito e Finanças... aliás, ás vezes pergunto-me: ''Como é que é possível um país ser governado (quase) exclusivamente por licenciados em Direito?'', a representatividade das outras profissões é nula, e a falta de sensibilidade para questões que não dependam de artigos, do código do processo civil e de outras tantas coisas absolutamente entediantes como as que referi, contribui para a imensa viscosidade em que o progresso cultural português está imerso.
Para o aspirante a cientista em Portugal há muito poucas soluções...uma vez que como ninguém o vê como trabalhador, ninguém lhe vai dar emprego!
Então há um sistema de bolsas, bolsas de investigação, bolsas de doutoramento, bolsa de pós doutoramento... e outras. Quem quer fazer ciência aqui, tem que saltar de bolsa em bolsa e sujeitar-se muitas vezes a interregnos mais ou menos prolongados, sem direito a qualquer apoio, pois é-se ''bolseiro'' e não ''trabalhador''. O próprio nome ''bolsa'' a mim, e quase toda a gente remete para um sistema de apoio social, para desfavorecidos... e é de facto essa a imagem do cientista português perante a sociedade um ''nerd'' a quem o estado garante por vezes umas bolsas, sem as mais básicas regalias... muitas vezes até aos 40 anos...
Do meu ponto de vista, o bolseiro de investigação (licenciado, mestrado, doutorado ou pós doutorado), é um trabalhador...Terá que haver contratos de trabalho, para investigadores e ponto final. Como os investigadores fazem formação continua....não há ambiguidade nenhuma, faz parte do seu trabalho fazer formação continua...
Só uma mudança de paradigma poderá fazer um inversão das mentalidades e criar uma base sustentável para o futuro da ciência portuguesa. Outros estratagemas políticos que não apontem nesta direcção, que não prevêem um estatuto do trabalhador cientifico, com todos os direitos constitucionais a que um trabalhador tem direito, impedirá Portugal de ter um corpo cientifico motivado, fomentará o ''brain drain'' para países civilizados, com gente civilizada, que os recebe de braços abertos e lhes dá claro está, condições laborais decentes. Esses países, agradecem!!!
Outros desistem...e vão trabalhar no Continente, no MacDonalds...dão umas explicações e contribuem para a massa de gente frustada deste já cinzento e triste país...