Sunday, July 15, 2007

ROOM 101

“To the future or to the past, to a time when thought is free, when men are different from one another and do not live alone – to a time when truth exists and what is done cannot be undone:From the age of uniformity, from the age of solitude, from the age of Big Brother, from the age of doublethink – Greetings!”

Nunca mais olhei para a sociedade depois de ter lido o 1984...fiquei de tal forma fascinado com o livro que o li várias vezes tanto na edição portuguesa como na versão original, a qual comprei há alguns tempo atrás e voltei a ler.
A densidade da distopia orwelliana é de tal ordem grande e fascinante que não me importo de por vezes voltar á Eurásia para rever o mundo, sem a opacidade retinal em que o dia a dia nos coloca. Ao ler este romance perdi a inocência para sempre...levantou-se uma cortina que nunca mais irá baixar. Fiquei portanto condenado a aguentar o espectáculo da vida como ela é até ao fim dos meus dias.
Todos nós temos um pouco de Wiston Smith ou de Julia...e todos nós, como eles, tememos os nossos pesadelos..todos nós receamos passar um dia pelo medonho ''Room 101''. No livro Orwell sugere que Wiston conseguiu livrar-se das torturas infligidas por O'brien traindo a Julia e tudo indica que o mesmo lhe aconteceu a ela.
No ministério do Amor (MiniLuv em ''newspeak'') responsável pela manutenção do amor e da lealdade dos habitantes ao partido IngSoc e a sua submissão ao Big Brother, através da lavagem cerebral e torturas permanentes, O'brien pretende simplesmente fazer com que Winston traia Julia, se submeta absolutamente ao partido e à ordem vigente...mas também que se abandone...e se torne incapaz de resistir ou de duvidar.
Um dos aspectos poucas vezes referidos, é a que a redução ao mínimo das relações sociais imposta pelo IngSoc, com isto pretende evitar o pensamento colectivo. No limite, o controlo da sociedade passa a ser reduzido ao controlo do individuo.
O aumentando do ''atomismo'' social a que tenho assistido, na nossa sociedade ultra-individualista, assusta-me, pois estamos a ficar cada vez mais sós, prozáticos, deprimidos e incapazes de nos entre-ajudarmos, mesmo nas coisas mais simples.
Nunca estivemos tão sós e jamais voltaremos a estar tão unidos.

Sobre o 1984 há imensa coisa escrita. Para os interessados está na wikipedia um dos melhores artigos que jamais lá encontrei, o que demonstra com clareza o fascínio que esta obra tem sobre as pessoas.

A obra completa de George Orwell pode ser encontrada em:

http://www.george-orwell.org/

Uma vista de olhos no filme ''Nineteen Eighty-Four '' (1984) , pode ser dada através de:

http://www.youtube.com/watch?v=J7Kznmrc3o4

Outras obras que li baseadas em ambientes distópicos e de que gostei muito:


''Admirável mundo novo'', Aldous huxley
''Nós'', Yevgeny Zamyatin
''Farenheit 451'', Ray Bradbury
''Triunfo dos Porcos'', George Orwell
''Laranja Mecânica'', Anthony Burgess

Wednesday, July 11, 2007

O que pode provocar um levantar de cama menos atento, ou a importância de um intervalo de tempo infinitesimal em toda a nossa vida.


É muito fácil encontrar padrões de comportamento, tanto nas nossas vidas como nas dos outros. A ordem de que falo pode não ser absoluta, regra geral é local tanto no espaço como no tempo.
De facto o que mais me fascina perante esta constatação é a importância das singularidades no conjunto de padrões aparentemente monótonos. Por singularidade quero dizer um evento não previsto, um acaso. E, o que é mais interessante ainda, é facto do poder do evento que ocorreu, digamos numa fracção infinitesimal de tempo ser regra geral absolutamente menosprezado quando de facto poderá ter o poder de mudar para sempre o rumo das nossas vidas.
Repare-se na extrema instabilidade do equilíbrio em que assenta o nosso dia-a-dia...a dramática importância que o acaso tem nas nossas existência. Podemos prever quase tudo, mas nunca prevemos o acaso. O acaso é o móbil que atira o equilibro instável em que estamos para dinâmicas vertiginosamente imprevisíveis que podem catalizar acontecimentos que se repercutirãomuitas vezes até ao final das nossas vidas.
A probabilidade do ''acaso'' acontecer está intimamente ligada ao número de variáveis que descrevem o sistema, em geral quanto maior o número de variáveis presentes, maior a probabilidade de ocorrem ''acasos''. É essa dependência sensível das condições inicias, ou do valor das variáveis iniciais que pode tornar um intervalo de tempo infinitesimal, a duração de um sorriso, um olhar, um momento fatal de distracção, muito mais importante do que os períodos que o antecederam e eventualmente os que o sucederam. A dependência sensível das condições iniciais, é o que popularmente ficou conhecido por ''efeito borboleta''. Este tema foi objecto de estudo de Eduard Lorenz e está brilhantemente resumido na frase emblemática: ''Does the flap of a butterfly’s wings in Brazil set off a tornado in Texas ''.
A vida de um ser humano é sem dúvida alguma um sistema dinâmico de muitíssimas variáveis, como sejam a sua fisiologia, a sua mente e ás infindáveis variáveis do meio em que ele vive. A vida é portanto um destes sistemas que descrevi, um sistema muito sensível das condições iniciais, que numa fracção de segundo faz com que se acabe a monotonia dos dias ou mesmo com os nossos próprios dias!
E o que pode provocar um levantar de cama menos atento? Bom, se leram e compreenderam bem o que eu disse, já devem saber que a resposta é simplesmente: TUDO!


Atractor estranho de Lorenz a 3 dimensões








Monday, July 09, 2007

MORITVRI.TE.SALVTANT

Segundo Suetonius, Claudius 21.6, as sangrentas lutas de gladiadores eram por vezes precedidas de um ritual, no qual estes se dirigiam ao Imperador e diziam: ''Moritvri.Te.Salvtant''. Esta imagem da Roma antiga é a minha metáfora do presente. Olho para a vida frequentemente com a ilusão de estar olhar da perspectiva do imperador, mas sei que me encontro muito mais frequentemente na arena, em batalhas titânicaa sem vencedores, mas de vencidos.

''Uri, Vinciri, Verberari, Ferroque Necari'', Petronius Satyricon 117

Jean-Léon Gérôme (França, 1824-1904), Pollice Verso (dedos para baixo), 1872, óleo sobre tela