Monday, December 17, 2007

C de Pablo Neruda

Há dias a trás uma conversa de tema inesperado com C. , abriu caminho para um agradável regresso ás memórias do meu passado, e em particular ao momento em que descobri a poesia de Pablo Neruda. Hoje passados alguns anos ainda são poucos os poemas de outros autores que me conseguem comover, como os dele. A verdade é que lê-lo estimula-me emocionalmente da primeira á última letra, e considero alguns dos poemas como o que mostro a seguir sínteses admiráveis de momentos inesquecíveis os quais se tornam ainda mais belos recordados ao som das palavras de Neruda.

O teu riso
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosada minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
Pablo Neruda

http://en.wikipedia.org/wiki/Pablo_Neruda

2 Comments:

Blogger contradições said...

Como já te tinha dito, este poema é muito bonito.
a.m.

1:22 PM  
Blogger luis pereira said...

Sem dúvida! Faz parte de um pequeno conjunto de poemas do PN que leio frequentemente... para activar as minhas emoções!

luis

3:10 PM  

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